domingo, 26 de abril de 2009

Mestres das seis cordas com Leo Ventura

Leo Ventura é um grande músico carioca que conheci em uma dessas noites de Blues.

Além de ser um extraordinário guitarrista é um ótimo vocalista, sem contar que é uma pessoa muito divertida.

TB: Como você iniciou na música e como foi para no blues?

LV:
"Comecei a minha vida ouvindo muito rock brasileiro e MPB. Embora ninguém na minha família fosse músico, minha casa era muito musical. Minha mãe e minha avó sempre ouviam muita (boa) música, como Rita Lee, Lulu Santos, Legião, Engenheiros, Caetano, Gil e etc. Enfim: desde criança curtia reunir os amigos para ouvir música em casa – me interessava muito mais do que jogar bola.... rs

Sempre quis aprender a tocar guitarra e aos 13 anos ganhei o meu primeiro violão. E aí comecei a tocar, sem fazer aulas, tirando músicas um tanto preguiçosamente, pois eu preferia ficar improvisando em cima das gravações do que efetivamente “tirar” as músicas igual a gravação original.

Demorei um pouco até formar a minha primeira banda de verdade e só aos 18 anos passei a tocar na noite do Rio. Ainda nessa mesma época, comecei a ouvir blues compulsivamente e, com a grana que ganhava no estágio de direito que fazia, comprei vários e vários CDs de blues (B.B King, Albert King, Clapton, John Mayall, Robert Johnson e vários outros), eu foram formando a minha personalidade musical.

Nos bares, tocava muita MPB e B-Rock, mas, em casa, sempre tirava cada vez mais e mais o blues e alimentava a vontade de montar uma banda só de blues. Engraçado, desde moleque eu já tinha o nome da minha futura banda de blues na cabeça: DESTILARIA...
Mas esse sonho ficou mais um tempo reprimido, tempo em que gravei um autoral de rock nacional CD com a banda BR-80 (“Sonhos Arquitetados – 2001”), que foi lançado de forma independente. Passada essa fase, eu já não conseguia mais ficar longe do blues e não deu jeito, a DESTILARIA tinha de sair do papel.... rs

Em 2004, chamei os amigos Ronaldo Januário (gaita) e Bruno Leiroza (guitarrista da banda Velho Joe e ex-companheiro na BR-80) e resolvemos botar a DESTILARIA na rua. Marcamos umas datas para fazer um blues acústico num bar só de blues que havia na Lapa (bairro no Centro do Rio), chamado Twenty Pounds Blues Bar. Assim surgiu a banda que segue até hoje ...."


TB: Você é Carioca e está em São Paulo há pouco tempo. Quais as diferenças do cenário blues entre as duas cidades?

LV: "Na verdade, atualmente, são cenários bastante semelhantes. Aqui em Sampa o cenário está muito bacana e o clima das pessoas é muito semelhante ao do Rio. Há uma congregação e amizade muito forte entre as bandas, e isso é muito fundamental para a divulgação do estilo e dos trabalhos de cada um. Black Coffee, Bimbolls Brothers, Summan Brothers, Marafa Blues, Eletric Muddy, entre outras, estão fazendo trabalhos muito legais, abrindo bastante espaço para shows e atraindo um público significativo para os seus shows!

No Rio, hoje, temos um cenário super bacana também! Principalmente, por força da BANCA DO BLUES – www.bancadoblues.com -, capitaneada pelos meus amigos Paulo Vanzilotta e Denise do Amaral, que é um espaço para shows, toda sexta-feira, em pleno Centro do Rio de Janeiro, numa banca de jornal. Só que com um som profissional, segurança e tranqüilidade, com um público médio de 200 pessoas por noite e muito espaço para a divulgação do estilo e das bandas. Na Banca já tocaram músicos renomados do blues nacional como Big Gilson, Maurício Sahady, Rodrigo Nézio, entre outros, e várias bandas que hoje se destacam no cenário carioca como a Mamute, Like a Rolling Stones, Velho Joe, Bandanna Blues,Zanata & Blues Trio, entre outras várias.

Claro que, tanto Rio quanto São Paulo carecem ainda de melhores espaços para o blues e mais apoio para as bandas. Isso no Rio ainda é mais claro, pois são alguns pouco lugares para shows, e sempre os mesmos (Banca do Blues, Bar do Frank, Dragon Jack, em Niterói, e mais dois ou três). E o pior é que os donos dos outros bares não vêem que existe público para o blues. E um público fiel! Mas, enfim, essa é a nossa luta: abrir espaço para a nossa música e continuar, cada vez mais, a unir as bandas, sem competição, para que haja espaço para todos!!!"

TB: O que você procura com sua música?

LV: "Objetivamente: me conectar com as pessoas. A meu ver, a música é forma de expressão mais linda que existe. E também a melhor forma de exprimir sentimentos e fazer amigos.

Tocando um instrumento e cantando você não tem como se esconder. Você fica absolutamente exposto e mostra quem você é. Outra coisa genial é ver como a música de cada um é única. Eu posso tocar as mesmas notas que você, mas cada um tem o seu jeito e sua abordagem, e isso faz com que a música seja ao mesmo tempo única e universal. "

TB: Conte o que estar no palco? Quais sua preocupações enquanto você está tocando?

LV: "O palco é, sem dúvida, o melhor lugar do mundo! Sinceramente, quanto estou tocando, normalmente, eu me “desconecto” um pouco desse mundo, cara. É um prazer inenarrável. Claro que é sempre importante ter um bom som geral, para que você ouça bem cada parte da banda, uma voz bem passada, uma guitarra bem timbrada, mas, passada esta fase... é só aproveitar! rs"

TB: Quais são seus projetos atuais?

LV: "Apesar de estar morando em São Paulo, a DESTILARIA continua firme e forte! A banda toca um blues-rock autoral, com letras em português, mescladas com clássicos do blues e do rock´n roll. Meus comparsas, amigos e irmãos da DESTILARIA são: Maurício Fernandes (guitarrista também da Bandanna Blues e do Garganta Seca), Sergio Gullo (bateria) e Ramon (baixo). Para mais informações da banda, mp3 e vídeos, Clique aqui .

O próximo show da DESTILARIA está marcado para o dia 29.05 (sexta-feira), na Banca do Blues, no Rio, onde faremos uma grande festa para comemorar o meu aniversário, com várias canjas de amigos da banda. Depois, devemos iniciar o processo de gravação do nosso CD, já que temos bastante material autoral pronto para registro!!!

Além da DESTILARIA, tenho um duo de blues em São Paulo, guitarra e gaita, com o meu irmão paulista Oswaldo Moraes (gaitista da Black Coffee). Fizemos a nossa estréia juntos em Março e breve teremos mais shows. O clima do duo é de muito improviso em cima dos clássicos do blues.
Estou ainda montando uma banda em São Paulo que em breve estará na rua também. Enfim... várias atividades, afinal o BLUES NÃO PODE PARAR!!!"

TB: Leo, muito obrigado pela sua contribuição no Blog. Deixo aqui um espaço para seus comentários finais.

LV: "Terremoto, meu caro, quero agradecer o convite para falar aqui no blog. Acompanho seu trabalho há muito tempo, sempre lendo as boas entrevistas e os achados musicais deste espaço (Francini Bessi, Leo Lobão da Mamute, entre outros). Enfim... muito obrigado pelo espaço e pelo carinho.

Quero ainda agradecer aos meus amigos e irmãos do blues (cariocas e paulistas). A galera da DESTILARIA (Maurício, Serginho e Ramon), Anna Carla e Claudio Guerreiro (Bandanna), Paulo e Denise (Banca do Blues), Zanata e Blues Trio, Oswaldão, Bel e Marcião (Black Coffee), Ale Rossi e Frank (Bimbolls), entre outros. O melhor da música são os amigos!

E, em breve, estaremos na área, com mais blues e boa música para todos nós!!! Paz a todos nós!!!"


(Blues da Solidão(música própria) – DESTILARIA)


(DESTILARIA E BIG GILSON - Dimples)

sábado, 18 de abril de 2009

Mestres do Slide com Ótavio Rocha

O poder e a energia do som deste mestre é algo impossível de ser colocado em palavras.

Ótavio Rocha é, sem sombra de duvida, o guitarrista que mais influenciou os amantes de slide no Brasil.

Leia e aprenda, pois esta não é uma simples entrevista, é também uma grande aula de blues.


TB: Quando você iniciou com o Blues Etílicos, o blues no Brasil praticamente não existia. Hoje você é uma referencia no slide nacional e a sua banda foi e é a maior influência para os músicos de Blues no Brasil. Você já parou para pensar nisso? Qual é a sensação de completar 20 anos com uma mesma banda e ter 10 discos gravados?

OR: "Bem, de fato quando começamos, não havia nem de longe um mercado de blues como existe hoje em dia. E esse aspecto de desbravação é uma das coisas que eu mais gosto quando lembro dos anos iniciais, pois tudo era feito de improviso, não sabíamos o que esperar do publico, então a sensação de estar dizendo algo novo era muito boa. Alem disso. A quantidade de informação sobre Blues nos anos 80 era mínima, ou quase nenhuma de maneira que fomos aprendendo na prática.

Nesse sentido. O primeiro festival internacional de Blues feito no Brasil, em 89 foi para nós um momento inesquecível, pois foi a primeira vez que vimos e tivemos contato com artistas como Buddy Guy (para quem abrimos o show e o evento) Albert Collins, Etta James, Junior wells e Magic Slim.

Hoje em dia com o youtube e com tudo o que já se gravou à disposição na internet, é muito mais fácil para quem quer se aprofundar ter acesso as informações necessárias. Mas ao mesmo tempo quem ta começando tem que se cobrar mais, porque só não aprende se não quiser.

Assim, fomos crescendo aos poucos, na estrada mesmo e acho que a razão para estarmos juntos até hoje com na 10 trabalhos lançados, entre cds e Lps, é uma grande afinidade no palco, e acredito que o grande barato de uma banda é saber que o todo é maior que a soma das partes....a sensação é muito boa na medida em que a banda esta sempre buscando novos caminhos, sem perder o referencial do blues, mas estamos sempre olhando pra frente.

Quanto a ser uma referencia do slide fico feliz de ser citado como influencia, acho incrível mesmo, e acho que isso tem dois motivos: ter sido um dos pioneiros do slide, junto com o André Christovam e o Lulu Santos, e ter desenvolvido uma forma de tocar bem específica, o que de alguma forma faz o meu som se destacar."

TB: Como você se interessou pelo Slide? Quais as dificuldades que você encontrou e quais foram suas maiores descobertas?

OR: "Bem, desde os 10 anos de idade eu sou fascinado pelo som do Slide...Nessa época, através de primos que moravam na Europa, eu escutei o Lp Second Winter, e a gravação do Johnny pra Highway 61 to Dylan me deixava assombrado. Eu achava que se eu tocasse daquele jeito eu ia ser o cara mais poderoso do mundo...hehe

No Brasil o primeiro cara que eu ouvi tocar slide foi o Lulu Santos, um tremendo guitarrista com um senso melódico incrível no uso do slide.

No entanto, por mais que eu tentasse passar uma pilha no violão, o som era esquisitissimo e eu achava impossível algum dia tocar daquele jeito.

Depois, em 79 saiu aqui o Muddy Mississipi Waters live, de capa preta.....esse disco eu ouvi até estragar, os solos de slide assustadores do Muddy, a cozinha, a gaita do James Cotton, tudo isso foi uma descoberta incrível pra um garoto de 16 anos!

Ainda assim, foi só em 82 que descobri por acaso um livro numa loja de Copacabana, e nesse livro eu fui apresentado ao maravilhoso mundo das afinações abertas. Quando pus meu violão em E aberto foi como descobrir o sentido da existência! Então creio que minha maior dificuldade foi descobrir que existiam tais afinações e a maior descoberta também! A partir daí eu percebi que tinha muita facilidade pra tocar slide, tinha uma boa afinação e um bom vibrato desde o inicio."

TB: Quais afinações você usa para tocar slide? Você tem uma guitarra só para isso?

OR: "Usei muito A aberto (E C# A E A E) E aberto (E B G# E B E) quando comecei a tocar no Blues Etílicos, até porque não sabia tocar guitarra convencional....fui aprendendo no palco mesmo. No nosso primeiro disco, Blues Etílicos (87) eu só sabia tocar guitarra em afinação aberta, apesar de conseguir fazer uns riffs em afinação normal.

Hoje em dia uso afinação normal pra tudo, tocar slide assim é muito mais difícil, mas te obriga a ser mais preciso, a dar menos notas e a usar muito menos os clichês das afinações abertas, e pra isso uso só a minha velha e fiel SG de um captador só.... ela é perfeita para a minha forma bruta de tocar....além disso não separo o slide do não slide, pra mim é tudo guitarra, não diferencio uma coisa da outra.

O máximo que faço é por o bordão E em D, em musicas como Misty Mountain (no cd Ao vivo, de 2001) e Walking Blues (do nosso ultimo cd Viva Muddy Waters, de 2007) ."

TB: Hoje você mantêm um Blog o "Pensamentos Otavianos"
. O que te levou a criar este Blog? Você acha que com ele você pode passar sua experiência para outras pessoas?

OR: "Bem, sou formado em Ciências Sociais, consegui fazer o curso não sei como durante shows e gravações, então o blog pra mim é mais uma forma de por meus pensamentos relacionados a questões sobre musica em geral em ordem, até porque acho que nem a minha mãe ta lendo ...hehe...porque com certeza se você faz um blog de alguma forma isso te obriga a definir melhor sua visão de mundo porque eventualmente alguém vai ter acesso aquilo."

TB: Ótavio, não tenho como mensurar a honra de entrevistar você, pois te admiro muito. Deixo aqui um espaço para seus comentários finais.

OR: "Bem, Roberto valeu pelo papo um abraço pra você e pra todo mundo"



OR: "Gravação que fiz com o guitarrista Mauricio Saady."


Veja mais:
- Gravadora Delira Blues
- Site Blues Etílicos
- Perfil Orkut Blues Etílicos
- Blog Pensamentos Otavianos

Fotos: Renata Duarte

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mestres das seis cordas Paulo Calarezzo

Tenho a honra de trazer para as páginas do blog um mestre da guitarra. Uma músico que simplesmente brinca com o Blues e o Jazz.

Paulo Calarezzo é um músico completo, pois une feeling e técnica, para chegar em um som maravilhoso e apesar de tudo isso, é uma pessoa simples.

TB:Você é um guitarrista com uma bagagem incrível, pois domina vários estilos musicais. Por este motivo gostaria de saber, o que te faz tocar Jazz e Blues?

PC: "Sempre que comento isso muitos ficam surpresos, cresci numa família de classe média na capital paulista, gente trabalhadora, que me deu uma boa educação a custo de muito suor, porém sem muito tempo para apreciar música, difícil imaginar alguém se tornar músico crescendo em um ambiente pouco musical, mas isso que aconteceu: Meus primeiros contatos com a música foram através da TV, personagens como Adoniran Barbosa, Clara Nunes, Elis Regina, Hermeto Pascoal... nomes que povoavam nossa MPB antes da total banalização cultural dos meios de comunicação, porém o que mais me marcou foram as trilhas sonoras de antigos desenhos animados, onde se encontra muito jazz e blues, incríveis pianos de boogie-woogie e big bands quebrando tudo como na Pantera cor de Rosa. Quando comecei a estudar música, no início da adolescência, me apaixonei por improvisação, o que me aumentou mais ainda a minha paixão pelos estilos."

TB: Em 2004 você lançou o seu Cd “Blues Loud”. O que te fez gravar este CD? Quem trabalhou com você nesse projeto? E podemos esperar algum trabalho novo?

PC: "No início dos anos noventa, além de diversos trabalhos como músico acompanhante e free lancer, me dedicava a um grupo de jazz que era meu xodó, mas as coisas não iam lá muito bem, um amigo meu tocava na Blues Connection e me falou que o blues estava em alta, e que haviam diversos lugares pra se tocar, bom comecei a cantar e a fazer blues e descobri que tinha jeito pra compor no estilo, depois de alguns anos passei por alguns grupos e tocando com muita gente boa decidi montar meu próprio trabalho que culminou neste CD. Nele eu apresento algumas das minhas composições e toco alguns clássicos que me acompanharam ao longo dos anos.


Na produção juntei um verdadeiro mutirão de amigos e colegas, como o baixista Célio Barros que co-produziu o trabalho e cedeu seu estúdio para parte das gravações, bem como Tomi Terahata, meu amigo de infância, e que na época era proprietário do estúdio Groove Digital. No que se refere aos músicos, temos o baixista Pedro Marcondes, o pianista Lobato Acarahyba, ambos tocam comigo ainda hoje no Polissíntese Jazz Group, o baterista Ronaldo Palleze, companheiro de longa data, um ótimo produtor e um dos músicos mais extraordinários com quem já trabalhei, Luiggi Granieri no hammond, que tocava na Blues Keepers, e na gaita, Marcelo Rodrigues que tocou comigo na Urublues, com quem tenho uma grande amizade e costumo de vez em quando fazer dueto de violão e gaita com ele.

Quanto a um novo trabalho, já tenho o conceito de um novo disco totalmente desenvolvido, porém, ainda quero mantê-lo na gaveta. No Brasil o público que aprecia blues ainda está cheio de preconceitos, tem relutância quanto a composições em português e muitos estranham a modernidade do meu trabalho, então A garotada mais é que tem me dado alguns indícios de que as coisas vem melhorando, me parecem mais abertos à nossa mensagem e não estão estigmatizados com aquele conceito de que blues tem de ser aquele som mofado, isso daqui um tempo talvez me traga de volta para ao estúdio."

TB: Quais são seu projetos hoje? Com quem você está tocando?

PC: "Toco em um grupo instrumental que funde jazz, rock, blues, pop e música brasileira, o Polissíntese Jazz Group. Lançamos no ano passado o CD que trás as composições de nosso pianista Lobato Acarahyba, e desde então estamos trabalhando na divulgação e propagação dessa nova estética. A aceitação do público tem nos emocionado e temos muitas perspectivas sérias para o futuro.

No ano passado, a convite do SESI, reuni o meu grupo original, aquele que gravou comigo, foi um grande show e saímos todos empolgados. Não tenho trabalhado com um grupo de blues fixo, o que tem me causado muitos problemas, principalmente pelo pouco tempo que acaba sobrando pra ensaiar. Estou com vontade montar um grupo fixo novamente e voltar à estrada, quem sabe o mesmo time...

Toco também em eventos, às vezes só, mas na maioria em grupo, isso é algo que curto fazer e ajuda a pagar as contas, além das inúmeras aulas que dou... rsrs"

TB: Neste mundo, onde o Rock não é algo que a maioria dos jovens escuta, como é ser professor de música? Qual a faixa etária dos seus alunos? E que tipo de música querem aprender?

PC: "Não tenho o dado de que a galera está escutando, mas meus alunos ouvem basicamente Rock’n’Roll, muitas vezes de péssima qualidade, muita coisa que não possui nada de elaboração, os caras cantam muito mal (mais parecem que gemem), mas tem uma galera que curte rock mais das antigas, e isso não é pouca gente não... Tem gente que curte Led Zepplin, Pink Floyd, Steve Ray e por ai vai... às vezes influencia dos pais, outras guitar hero, mas muitos vem atrás disso.

Leciono para todas as idades, meu aluno mais novo está com oito anos e acho que o mais velho está com uns vinte e seis, ministro aulas de prática em conjunto no Colégio Santa Clara e lá trabalho com alunos de doze a dezoito anos. O que percebo é que os mais novos são mais afetados pela música pop e os mais velhos já são mais roqueiros, mas no que se refere ao repertório se encontra de tudo, mas a música internacional predomina, e infelizmente poucos gostam de blues.

Como professor a coisa que mais incomoda é a falta de dedicação que se vê na garotada, querem evolução sem muito esforço, ai a coisa não caminha legal, a aula fica pesada pra mim e pra eles também, mas para mim como professor o que interessa mesmo é poder trazer algo de bom pra vida desses caras, tanto que quando encontro ex-alunos todos me tratam muito bem e muitos mencionam o quanto as aulas de música foram importantes na nas vidas deles. Pra mim, missão cumprida!"

TB: Paulo, é muito bom ter um músico tão competente no blob, Obrigado. Deixo aqui um espaço para sés comentários finais.

PC: "Eu agradeço muito a lembrança, numa terra sem memória, muitos vêm se esquecendo desses anos que dediquei ao blues e a seu convite me deixou muito lisonjeado. Quero te parabenizar pela iniciativa e deixar aqui minha admiração pelas suas composições e batalha para fazer o blues nacional crescer. Eu estou um pouco de férias do Blues, mas daqui a pouco eu volto...rsrs.

Gostaria também de dar um toque pra galera que ainda não se ligou que o tempo passa e a fila anda... eu adoro Robert Johnson, Skip James, Blind Limon Jefferson e muitos outros, mas se o blues ficasse no purismo não teríamos Muddy Waters, BB King, Buddy Guy, Jimy Hendrix, Stevie Ray e tantos outros que fizeram e fazem a história do blues. O blues nacional hoje já tem cara própria e precisa ser prestigiado, então galera, vamos abrir os ouvidos pq tem muita coisa boa por ai, e não são só gaitistas ou cantoras negras não, são guitarristas, pianistas, bandas, compositores que fazem música em inglês e português, em suma, tem muita coisa legal pra gente curtir!!!

Outro toque que gostaria de dar é de que tem muita gente que ouve música o dia inteiro no rádio, em casa, no carro, debate sobre música com os amigos, porém não tem o hábito de ir a um show ou a um concerto. Pessoal, arte só acontece ao vivo, só conhece a Monalisa quem foi ao Louvre vê-la, só se emociona de verdade com as artes cênicas quem vai ao teatro assistir uma peça, e porque em música um monte de gente acha que o disco é uma obra de arte, é nada!!! Um grupo da pesada faz o máximo para em uma gravação conseguir algo parecido com o que faz ao vivo, e mesmo assim o resultado fica sempre bem aquém, então se você realmente gosta de música é melhor se mexer mais e ir testemunhar ao vivo o que é um puta som!!! Só assim você porá usufruir de verdade a música!!!

Queria mandar um abração pra galera do blog e agradecer a oportunidade de expor minhas idéias.

Muitas felicidades a todos e vida longa à música de raiz, ao feeling, vida longa ao blues!"





Veja mais:

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Vozes do Blues com Tainah Dantas

Trago para o Blog mais um pequeno achado. Sim, é um pequeno achado apenas no tamanho, pois nem sempre tamanho é documento.

A pequena Tainah Dantas é uma jovem vocalista, que possui uma voz suave e delicada, que toca a alma de quem escuta seu Blues.

Com apenas 20 anos, esta jovem cantora possui uma personalidade musical incrível, para comprovar isto, leia a matéria e assista ao vídeo.

TB: Quem é a Pequena Tainah Dantas? Conte um pouco da sua vida na música.

TD: "Bem, eu comecei na música com uns 3 anos de idade, quando comecei também a cantar. Antes dos 10 já cantava e me apresentava em coral, tocava flauta doce e alguns outros instrumentos de musicalização infantil, como xilofone, metalofone, etc.

Meus estudos eram basicamente auto-didatas, até que o tempo foi passando e com 12 recebi o primeiro convite para cantar numa banda, onde comecei a rabiscar algumas letras; com uns 14 já cantava em banda profissional fazendo alguns shows e apresentações locais. Nessa época comecei a estudar "academicamente" canto e teoria. Com 15, comprei meu primeiro violão e comecei a compor.

Nesse período participei de vários projetos que, depois, me levariam a cantar profissionalmente e a lecionar canto e desde então venho conquistando um certo espaço nessa àrea. Com uns 17 anos, me despertou uma curiosidade muito grande sobre a parte técnica do áudio (gravação, microfonação, mixagens, etc) quando então, recebi um convite para trabalhar num estúdio e senti a necessidade de aprofundar meus conhecimentos nesses assuntos e fui estudar - isso me ajudou a pensar a música e o som por um prisma mais pragmático, o que contribuiu muito no meu trabalho como música.

Enfim, a gente vai se consolidando aos poucos e querendo melhorar. Seria difícil dizer exatamente onde começou meu envolvimento "oficial" com música, pois, desde que me entendo por gente, ela faz parte de mim e da minha vida; acho que para todo mundo que trabalha com música é um pouco assim, não é? A sede de música não cessa."


TB: Sua voz é suave e delicada. Você se preocupa com o tipo de música que você escolhe para seu repertório? Quais os critérios que você tem para escolher as músicas que vai cantar?


TD: "Ah, obrigada pelo elogio! Olha, na verdade, não é com o tipo de música do repertório que eu me preocupo principalmente, mas sim com a forma de adaptar a minha voz a ele, até porque, no The Lady Blues Band a escolha do repertório é totalmente democrática, não se restringindo apenas à mim e claro, respeitando o estilo Blues; apesar de que quem mais é interado da seleção do repertório é o nosso guitarrista, Paulo Toth Jr. já enttrevistado por você anteriormente.


Eu adoro que seja assim, pois me dá a chance de exercitar uma flexibilidade que a própria proposta exige de se executar diversas faces do Blues e de interpretar cantores cujas formas de interpretação são muito variadas. Sendo assim a preocupação é conseguir retratar essas diferentes vertentes mantendo certas características sonoras de cada vertente do blues sem perder as características sonoras da minha voz.


Isso é um desafio que me acrescenta muito, e por isso procuro não ter um critério muito rígido na escolha das músicas que sugiro e que sugerem para o repertório, mas algo que com certeza é o pré-requisito nº 1 para que eu queira cantar uma música é que ela me faça transgredir de alguma forma, que me faça fazer coisas que eu não tive a idéia de fazer antes, e que principalmente me façam sentir algo."



TB: Você tem algum cuidado especial com sua voz ou você não se preocupa com isso?

TD: "Bem, ser cantora e professora de canto e inglês acaba cansando um pouco a minha voz; ela é meu principal instrumento de trabalho e por isso sofre certo desgaste. Sem contar que eu, por natureza, falo muito, durmo pouco. Para tentar compensar o desgaste e dar conta do recado bebo muita água, procuro comer, todo dia, pelo menos uma maçã, que é adstringente, evitar bebidas alcoólicas nos dias úteis, já que estas ressecam as pregas vocais e manter uma alimentação saudável. "

TB: Além do Blues, você canta algum outro estilo musical?

TD: " Sim, canto sim. É natural acabar cantando de tudo um pouco, mas lógicamente há os estilos aos quais eu mais me dedico. Ultimamente tenho ouvido bastante World Music, mas minhas raízes estão na MPB, e no pop e rock nacionais e internacionais mais antigos, bossa, jazz e com certeza funk e soul. "

TB: Tainah, muito obrigado por contribuir para o Blog. Deixo aqui um espaço para seus comentários finais.

TD: "Imagina, eu que agradeço pela oportunidade de expôr aqui um pouco do meu trabalho e contar um pouco da minha história. Precisamos de mais pessoas com a mesma iniciativa que a sua no meio musical, não é? Incentivando o lado B. Foi uma honra contribuir para o blog, vida longa à ele e parabéns pelo seu trabalho!"


Revival Blues Fest - Wonka Bar

Mais um vídeo da semana com o Grande Mestre Décio Caetano.

Ficha técnica: Come Back to my Arms Decio Caetano - voz e guitarra Robson Fernandes - gaita Johaine Droppa - guitarra Edu Mella - baixo Fernando Rivabem - bateria Cleber Washington - trombone 31/03/09 - Curitiba



Se você ou sua Banda de Blues tem um vídeo bacana, entre em contato!!!

domingo, 5 de abril de 2009

Mestres das seis cordas com Francinni Bessie

Às vezes me pergunto até onde o Blues pode chegar sem divulgação. Mas eis que uma prova viva disso surge no interior de São Paulo, em Sta. Cruz do Rio Pardo, que tradicionalmente não é uma cidade que se escuta Rock muito menos o Blues.

A jovem Francinni Bessie, de apenas 20 anos, que aprendeu praticamente a tocar sozinha, está aqui para nos contar um pouco de sua vida musical e mostra um talento incrível com a guitarra.

O Blog fica muito feliz publicando a primeira entrevista desta menina, que tem um futuru brilhante.

TB: Na sua idade, a maioria das meninas curte outros tipos de sons, músicas da moda e geralmente vão para lugares onde quase nunca tem banda ao vivo tocando Rock, muito menos Blues. Fico me perguntando, como o blues entrou na sua vida? E porque a guitarra?

FB: "Infelizmente, comecei a gostar de música um pouco tarde. Quando criança, meus pais ouviam rock clássico, mas nunca gostei do 'barulho'. Meu contato com a música começou mais tarde, por volta dos 16 anos, quando finalmente comecei a ter interesse por bandas como The Beatles, mas o interesse pela guitarra começou a surgir ainda depois, quando conheci o Blues.

Meu primeiro contato foi num bar, com uma banda ao vivo: quando ouvi aquilo fiquei sem palavras, o feeling, o ritmo, as letras. Era aquilo que eu queria pesquisar, estudar e, por que não, tocar pro resto da minha vida. Foi como um amor à primeira vista! Lembro-me de começar a pesquisar sobre o Blues no dia seguinte, quando descobri que ele era a raiz do Rock'n'Roll!

Após isso, conheci todos tipos de Blues, das raízes do Delta do Mississipi ao elétrico Texano!"

TB: Percebi que uma de suas maiores influencias é o mestre Stevie Ray Vaughan, quem te apresentou ao som dele? Quais suas outras influencias?

FB: "Praticamente, continuando a resposta anterior, foi quando, por meio dessas pesquisas sobre o Blues, Conheci o mestre Stevie Ray Vaughan. Até então nunca havia visto um Blues com tanto feeling, com tanta emoção e o mais surpreendente: um branco!

Fiquei realmente chocada, e me apaixonei imediatamente pelo feeling. Graças a ele, comecei a tocar guitarra, tentando tirar suas musicas de ouvido. Parecia loucura, mas eu consegui!

Minhas outras influências na guitarra, embora transpareça apenas SRV, Albert King e Muddy Waters são: Albert Collins, Guitar Slim, Jimmie Vaughan, Otis Rush, Eric Clapton, Jimi Hendrix, Freddie King. Mas, não posso deixar de citar outros nomes que não sei se devo chamar de influências por enquanto, mas sou apaixonada, como Johnny Winter e Rory Gallagher. No Delta Blues também adoro Skip james, R. L Burnside, Son House e, é claro Robert Johnson. Aqui no Brasil gosto muito do Blues de Otávio Rocha e do Fred Sun Walk que são guitarristas muito expressivos, cada um com sua maneira de tocar."

TB: Todo guitarrista procura sua própria identidade, melhor dizendo, seu próprio timbre. Você ainda está nessa busca? O que você usa hoje?

FB: "Acredito que uma das etapas mais difíceis na carreira de um guitarrista seja essa busca pelo estilo próprio. Grandes guitarristas tiveram essa dificuldade, mas ela é superada quando você se sente seguro improvisando o que vier em mente.

Eu comecei há pouco tempo, estou apenas iniciando essa eterna busca, mas acho que timbre tem a ver com a identidade e gosto de cada um e é uma coisa que se adquire com os anos. O mesmo vale para a identidade sonora."

TB: Onde você pretende chegar com seu Blues? Quais suas ambições musicais?

FB: "Pretendo manter-me estudando e ouvindo o Blues, sempre com muita dedicação. Gostaria também de compor e ter bons músicos para me acompanhar, uma boa cozinha é tudo no Blues.

Enfim, meu maior prazer é tocar Blues da maneira que posso e pretendo fazer isso para sempre."

TB: Francinni, muito obrigado por dedicar um pouco do seu tempo para i blog. Deixo aqui um espaço para seus comentários finais.

FB: "Eu que agradeço o espaço cedido e a grande iniciativa de se dedicar a um Blog que divulga o Blues e tantos músicos brasileiros competentes. Sinto-me honrada estando aqui e contribuindo um pouco com isso tudo.

Há pouco tempo, tocar Blues era um sonho distante pra mim, moro numa cidade pequena, onde é muito difícil encontrar músicos e muito menos que toquem Blues. Hoje graças ao incentivo de pessoas como Otávio Rocha, percebi que é possível, basta querer e abraçar todas as oportunidades. Aproveito também para agradecer todas as pessoas que tem acreditado em mim, André Christovam, Luciano Boca, Gustavo Andrade e a Hot Spot Blues Band, que me indicou para o Blog, Big Gilson e Fred Sun Walk, e todos os convites para jams e Festivais etc... Um dia eu chego lá!"





Veja mais:
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Obrigado meu amigo Gustavo Andrade, pela dica!!!