segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Vozes do Blues com Bee Scott

Hoje comemoro a marca de 50 artigos com uma das pessoas que me fez entrar para o Blues, a minha Diva, Bee Scott.

Vi esta mulher cantando em um programa de TV, e me apaixonei definitivamente pelo Blues, e quem me conhece sabe o quanto este estilo é importante em minha vida.

A Bee Scott é umas pessoas singulares, que veio ao mundo para mostrar um talento que só pode ser atribuído aos mais elevados anjos do céu.

Não tenho como agradecer este presente que recebo, mas com todo orgulho compartilho este artigo com vocês.

TB: Você está afastada dos palcos, mas está trabalhando muito nos bastidores. Hoje você tem uma produtora, uma rádio na Internet e escreve artigos para sites e blogs, como você consegue fazer tudo isso?

BS: "Em 2001 perdi uma filha no meu oitavo mês de gravidez e precisei entrar dentro da casca de câncer, voltei para o palco em 2003, onde acredito ter agregado algo mais a minha sensibilidade, uma maturidade sonora de alma e de vida. Uma praticidade e um senso de direção muito forte! Saber onde ir e onde chegar!

Percebi que cantar, criar, produzir, concretizar projetos culturais como a Rádio Strangers, tudo isso era parte de um projeto maior de vida, sempre ouvi de pessoas próximas, que Deus havia me presenteado com muitos dons e que por eu ser perfeccionista, eu os faria com muita garra, então, resolvi testar outras atividades que pudessem exigir de mim a criatividade e o corre corre que tanto gosto.

Às vezes, comento com algumas pessoas, que me tornei viciada em trabalho, raramente consigo me distrair com amigos, minha cabeça está pensando 24h em trabalho...As idéias surgem e eu preciso estar sempre pronta!

Eu não produzo apenas, hoje sou sócia da Na Selva Produções com a produtora Janaina Nascimento; sou dona da Rádio Virtual Strangers, onde mantenho um Server mensalmente, pois a rádio, consome um número elevado de gigabytes e a cada dia cresce mais, neste momento estamos reformulando a rádio.
Tive que tirar umas pequenas férias do site Balela de onde sou colunista, e do livro anual dos Anjos de Prata, do qual fiz parte em 2006 com três textos.

Estamos com uma grande demanda de produção e estou bastante satisfeita, pois tenho trabalhado com pessoas incríveis, com pessoas de todas as personalidades e egos. Acredito, que seja um estágio para que possamos exercitar a humildade.

Na produção aprendemos demais com o comportamento alheio.

Estando fora dos palcos, é como se tivéssemos nos vendo por um espelho, egos vulcânicos, explosivos e bastante exigentes; aprendemos a respeitar todos os temperamentos e ter o famoso jogo de cintura.

Fica tudo tão diferente...
Sempre fui exigente demais com o perfeccionismo, porém de uma maneira simples.
O talento independe de arrogância, aliás não combina com este estado de espírito!
O talento é tão poderoso que ele tem vida própria dentro de você, ele transcende, levita.

Temos que ampliar nossas mentes em direção ao novo, não pensar que somos únicos e que o universo não gira sem nossa participação, somente assim temos a chance de crescimento real...Estamos sempre zerando os pontos. O que permanece mesmo é o respeito que angariamos ao longo da vida e guardamos como fichas que podemos gastar mais tarde!

Quando eu participei da montagem da parte de sonorização do Sesc Vila Mariana, o engenheiro responsável me encontrou em uma bancada de solda e perguntou: Você não é a cantora de blues? O que vc faz aqui soldando cabos ?

Eu respondi: Gosto de aprender o que se passa por trás do meu trabalho, cantar não é somente segurar um microfone na mão e fazer caras e bocas.

É gostoso aprender como plugar um aparelho, e até mesmo consertar seu próprio cabo de microfone.

Uma cantora hoje em dia, não pode se dar ao luxo, em pleno século 21, de se alienar em frente a um microfone; ela tem que conhecer os bastidores do seu trabalho, para que possa opinar com propriedade nas decisões técnicas de seu show.

Quando fiz meu show no Sesc Vila Mariana, senti aquela pontinha de orgulho, de eu estar cantando e utilizando o cabeamento que eu mesma soldei.
Isso me deixou feliz!"

TB: A sua Rádio tem o objetivo de divulgar os talentos nacionais, e mostrar pra nós brasileiros, que temos capacidade de fazer música de verdade. Como você seleciona as Bandas para a rádio?

BS: "Acredito no meu senso crítico, e nas regras que coloquei para esse projeto cultural.

Considero a rádio meu primeiro filho, por este motivo o design dela tem um bebê com fones de ouvido, representando o nascimento do ser inteligente! O desconhecido originalmente bom!

Acredito muito no que não é popular, gosto do diferente, do cult, do underground, sou bastante exclusivista, mas não critico o outro lado da moeda, porque existem pessoas bacanas e talentosas em todos os seguimentos da música, mas meu feeling e meu gosto me empurram para o alternativo.

Falo de uma música bem feita, com harmonias e melodias bem construídas; é difícil passar a vida toda ouvindo Miles, Charlie Parker, Jimi Hendrix, B.B.King, Bill Evans, Coltrane entre muitos outros nomes que passei a juventude toda escutando e não desenvolver um senso forte crítico, um gosto apurado e uma ampla visão do improviso!

Quando eu assisto um show, eu já desenho na minha cabeça as notas que serão dadas no próximo acorde... Já é natural em mim.
Óbvio que não me prendo somente no blues, apesar de ser uma bluseira de alma; adoro descobrir nomes, vozes em novos estilos.
A primeira regra da rádio é ter um som de qualidade em termos de sonoridade, obviamente que o trabalho musical tem que ser inquestionável.

Eu não observo somente a técnica, eu observo outros fatores, como a criatividade, musicalidade, até mesmo a simpatia conta para que eu receba o artista na minha rádio.

Adoro um belo trabalho, aliado a humildade!

Não falo dessa humildade de ser coitadinho...

Porque todo artista tem ego inflado e acho até positivo, porque o faz correr atrás e desafiar seus próprios limites...
E quando é desafiado este ego, ele aparece arrebentando portas...e se não for bem trabalhado pode minar a carreira do artista.

Acredito no trabalho feito na quietude!
O artista que corre atrás da forma mais cotidiana possível...
Ralando!

Cavando espaços e sempre se reciclando!
Aquele artista que sempre tem nas mãos, materiais de qualidade, como mp3, cd demo, um belo release com fotos boas, um cartão de visita personalizado, investir em si mesmo e a simpatia e humildade de bater nas portas!

Meu projeto para 2008 é entrar em contato com um selo e fazer um cd da Strangers rock
Strangers Blues , todos os seguimentos da rádio!

Temos materiais fantásticos para isso!"

TB: Você tem uma das músicas mais bonitas que já escutei (“Trilhos”). Sei que o processo de composição varia de compositor para compositor. Como você compõe suas letras?

BS: "Meu processo de criação não é muito diferente dos demais, eu apenas coloco o coração profundamente nele, me entrego totalmente, mas acho que uma peculiaridade é que tenho que compor coisas reais...Sem fantasiar, eu vivo determinadas situações e crio minha letras, tenho um Gibson Ephifone muito bom, uso cordas Martin MH530 .010Phosphor Bronze...

E posso dizer que desde o primeiro momento, este violão sempre falou somente a minha língua!
Ele não conhece o caminho de outros sons...Ele toca somente o que eu crio!

É um estilo de compor, um estilo de ser meu!

Esta música Trilhos há bem pouco tempo foi super elogiada por um crítico de jazz americano. Confesso que nunca rotulei...Mas quando eu compus, eu havia ido a uma sessão de vídeo do Itaú cultural sobre blues, e me apaixonei por este filme, um curta metragem que contava a vida de vários bluesmans que não ficaram famosos, mas que eram lendas e mostrava a vida deles o dia a dia...Dentro de um trem...

Cheguei em casa inspirada...

Eu andava de metrô e de ônibus com um gravador de mão.
Eu cantarolava a melodia que eu havia criado para não perdê-la e esboçava a letra em pequenos papéis que eu encontrava dentro da bolsa...

Tem uma música no meu site, chamada “7th avenida” que fiz em homenagem ao Miles Davis, mas a música fala da minha Avenida do coração, “Paulista”.
Porque quando eu me sentia sozinha em são Paulo, ou me sentia oprimida nesta cidade gigante, eu pegava um ônibus e andava a paulista toda, e voltava renovada para casa... Deve fazer uns bons 18 anos.

Muitas vezes meu ex-marido vendo que eu estava irrequieta, sem inspiração, me convidava para passear de carro à meia noite na av paulista; eu abria os braços e andava com o vento na cara!

Isso tudo me remetia a fazer minhas canções!

Então meu processo criativo tem um momento certo, que nasce dependendo do que estou vivendo.

Pareço um pescador, que passa horas em frente ao mar esperando o momento de pescar!"

TB: Quando teremos a Bee Scott nos palcos? E existem previsões para um CD?

BS: "Recebo diariamente e-mails e contatos para produzir meus shows, pedidos de cds, dvds, casas de shows, pessoas que acabaram virando fãs, propostas de músicos americanos, pois a Internet tem um poder muito grande de tocar uma carreira sozinha, você pode estar afastada dos palcos reais, mas o palco virtual continua a te projetar para um número cada vez maior de pessoas!
Basta você saber como investir neste seguimento.

Hoje posso dizer que cuido do material virtual de várias bandas, a grande maioria de blues e uma delas, a Banda Blue Jeans, há um mês, estourou a Bandwidth, de tanta visita e procura pelo site, tudo isso é um resultado de um investimento da banda, claro que o trabalho, a notoriedade contam, mas na rede o que conta é ter um bom material, fácil de navegar, interessante de bom gosto.
Você investe uma vez e com toda certeza, sabendo trabalhar na divulgação, este gasto torna-se rentável!
Está no ar o site da Irmandade do Blues, Ruthe London, Piano Duo, estou acabando o site do Ari Borger e o da cantora Vania Lucas.
Hoje conto com um super designer, um músico bluseiro que está surpreendendo com seu trabalho em sites, o músico e artista gráfico Ricardo Lima, com quem tenho o prazer de trabalhar!
Sou formada em Belas Artes pela UDESC, e hoje desenvolvo arte gráfica em web e em business card, entre outros trabalhos ligados ao meio artístico, incluindo a consultoria para bandas de comportamento, moda e tudo relacionado ao estético de um trabalho musical.

Tudo isso é fantástico! Adoro trabalhar com esta possibilidade do inusitado, do mistério que envolve cada trabalho, é um desafio!

Eu acabo de passar por uma experiência inovadora, recicladora, onde mudei minha vida radicalmente!
Passei por uma cirurgia grandiosa, de desvio do intestino, Dr Lazarroto, onde perdi 24 kilos e me sinto outra pessoa.

Apesar das grandes cantoras de blues serem gordas, eu sou muito vaidosa e não estava satisfeita comigo, meu lado perfeccionista falou mais alto.

Tive que ficar o ano de 2007 afastada dos palcos, mas pretendo viajar para fora do Brasil em julho, se tudo der certo.
Não sei o que o futuro me reserva, pois estou aprendendo a planejar; não posso prever se tudo que eu quero vai acontecer, mas posso batalhar para que aconteça!

Pretendo continuar o curso de cinema com meu professor Francisco Conte, fazer meu documentário de blues e tenho planos futuros para um livro e um cd com várias parcerias
interessantes."

TB: Bee, não tenho como descrever o quanto fico honrado de ter você no meu Blog, deixo aqui um espaço para seus comentários finais.

BS: "Quero agradecer ao convite que você me fez, o respeito que você sempre demonstrou pelo meu trabalho, pela minha carreira.
Finalizo esta entrevista tão bacana dizendo: Ser músico, antes de mais nada, é ter a sorte de nascer com alma afinada, e a dádiva de ter ouvintes fiéis.

Sempre sabendo que, apesar de termos este dom musical, somos parte de um universo de seres que se esbarram pelas ruas da vida e que ninguém é melhor do que ninguém. Existem pessoas mais batalhadoras e pessoas que usam com mais sabedoria seus dotes musicais.

Somos apenas passageiros em busca da satisfação e da plenitude."





Veja Mais:
- Site
- Rádio Strangers

2 comentários:

karina disse...

Continue executando com excelência este trabalho maravilhoso e rico, tanto para os profundos conhecedores de blues como para curiosos e leigos como eu

Anônimo disse...

a melhor voz do blues nascional, fantastica, infelismente ainda não assisti nhenhum show dela, mas qd tiver vou sentar na 1ª fila, que voz, sem comentarios