Convidei um grande baterista para nos dar umas dicas, mas o que temos aqui é uma grande aula de bateria e que vale muito ser lida na integra, e levada para os estudos, ensaios e palcos, pois isso é o verdadeiro Blues.
Dayvk Martins, nasceu em uma cidade chamada Palhoça-SC, onde ele tinha tudo para tocar outras coisas, mas graças aos deuses do Blues ele está fazendo um dos melhores sons da atualidade.
Um baterista que segue a verdadeira linha do Blues, e que com toda a certeza, é um dos melhores bateras de blues nacionais.
Vamos ao que ele tem para nos contar.
Dayvk Martins, nasceu em uma cidade chamada Palhoça-SC, onde ele tinha tudo para tocar outras coisas, mas graças aos deuses do Blues ele está fazendo um dos melhores sons da atualidade.
Um baterista que segue a verdadeira linha do Blues, e que com toda a certeza, é um dos melhores bateras de blues nacionais.
Vamos ao que ele tem para nos contar.
TB: Você toca em dois projetos os quais são direcionados especificamente para Blues Tradicional e West Coast Blues, quais as características e as diferenças da bateria destes estilos, para as demais vertentes do blues?
DVK: "Bem, não vejo grandes diferenças que possam definir cada estilo de “bateria blues”, elas giram em torno do “shuffle beat” ou seja, falando em termos populares: as 4 batidas na caixa com acentos nos tempos 2 e 4 com o bumbo tocando as 4 notas. Isso faz com que a cozinha de uma banda de blues se torne firme, com peso para poder segurar a banda. Se um baterista sabe fazer um shuffle bem feito, já é boa parte do caminho andando. A diferença básica entre o blues tradicional, que no caso é que tocamos na South Side Playboys e o West Coast Blues que faz a banda Carlos May and the Fast Jumpers é justamente as variações em cima do shuffle. No caso do blues tradicional, você segue mais uma linha reta, sem muitas notas, tocando basicamente o necessário para fazer a cama ideal para os solistas o que difere do west coast blues, que usa muito os acentos, elemento que vem das big bands e do jazz, muitas convenções, uma exploração fundamental de dinâmicas, ou seja, é um estilo mais elaborado de se tocar blues. No caso dos boogies a bateria gira 70% em torno da condução, é esse prato que vai falar mais alto, mantendo caixa e bumbo num volume menor. Nos slows, gosto de usar peças soltas, uma nota de cada vez o que na minha opinião deixa o slow muito mais “dolorido”, tem os chicago shuffles onde você bota presão na segunda e quarta nota, falo isso de uma maneira bem pessoal mesmo, um mode meu de tentar entender o que faço. Não conseguiria explicar isso em termos técnicos.
É um caso sério ter que falar sobre isso, essas diferenças. Cada baterista tem seu gosto pessoal. Eu particularmente gosto de ter cartas na manga, de ter batidas diferentes para um mesmo estilo, seja blues tradicional, boogie, slow, rumba, mas todas elas jogando para o time. No Brasil, são poucos os bateristas que conseguem ter um “shuffle” preciso, não posso generalizar, até porque não conheço todos eles, mas dos que ouvi gosto muito do Yuri Prado, um baterista preciso, que sabe o que faz, muito noção de blues, jazz, swing, dentro do blues é um baterista completo, tem o Mazzola que toca com o Big Chico, Leandro Cavera, que tocava na On The Rocks Blues Band, de Itajaí aqui em Santa Catarina, um baterista que faz um Chicago Shuffle poderoso, o Victor Busquets que toca com o Robson Fernandes. E cito esses bateristas justamente pelo elemento que falei no início das resposta, ou seja, O SHUFFLE BEAT."
TB: Ainda nesses estilos parece haver uma grande interação da bateria com os outros instrumentos, como se dá essa interação?
DVK: "A interação entre todos os componentes de uma banda é fundamental, seja no estilo que for. No meu caso, o blues, além da interação entre baixo e bateria, a interação que você tem que ter com solistas e vocalistas é total. Você tem que ficar 100% do tempo, ligado no que vai ou poderá acontecer. Segue reto, baixa o volume, sobe o volume, breca, rufa..você nunca sabe o que os solistas irão aprontar com você, então, se você tem essa interação da banda, você mata essa “charada”. Como toco com o Carlos May faz mais ou menos uns 7 anos, adquiri essa percepção do que pode acontecer na música Consigo, não todos as vezes, é claro, meio que psicografar o que vai acontecer no seu solo e isso acontece também com os guitarristas, seja o Filipe que toca na banda solo do May ou com o Cristiano, guitarrista da South Side Playboys. Basta um deles puxar uma nota ou dar uma olhada pra mim, que meio que cato no ar o que vai acontecer. E quando isso acontece a música fica ainda mais poderosa...é o clima que só o blues consegue criar...na veia e na hora. Saber usar os espaços que a música deixa, crescer na hora certa, e por aí vai.
De uma olhada no que faziam, na minha opinião as melhores cozinhas do blues: Fred Below e Dave Myers, Bob Stroger e Ted Harvey, Stroger e Oddie Payne, Fuzz Jones e Willie Smith, Rick Reed e Eddie Clark, Jimi Boot e Bill Stuve entre outros, a interação deles era fenomenal e serve de lição fundamental para qualquer baterista de blues, e desculpe, se você baterista ou baixista de blues que leu esses nomes e não conheceu nenhum, me perdoe, mas, procure outro estilo para tocar."
TB: Quais peças você utiliza para compor sua bateria?
TB: Quais peças você utiliza para compor sua bateria?
DVK: "Não estabeleço regras quanto ao número de peças que uso na bateria e sim como essas peças estão afinadas. Até porque, se tiver que tocar um blues na bateria do Neil Peart, vou usar sempre as mesmas peças. Curto mais a afinação da bateria, som grave, gordo, que preencha a música, um bumbo aberto, que cubra o som, ou seja, uma onda mais vintage mesmo.
Hoje uso uma bateria Pingüim de 1969, uma jóia rara que adquiri e que hoje não me desfaço por nada. Ela tem o som que eu sempre quis. Uso peles porosas, que são mais harmônicas e uma baixa afinação nas peças. Pratos, chimbal, 1 ataque e 1 condução, peças a mais só me atrapalham...hehehehe."
TB: Quais as vantagens e desvantagens de ser um baterista de blues?
DVK: "Não vejo desvantagens em ser baterista principalmente de blues, porque toco o instrumento que gosto no estilo que gosto. Não tem como ver desvantagens, a não ser pelo fardo que carrega todo baterista de batalha, seja blues, rock, reggae, o que for: TER QUE CARREGAR, MONTAR, DESMONTAR tudo...uhehueuheuhehue...isso mata o cara, enche a mão de calos. Mas nada que sentar no banco e mandar ver não faça você esquecer de tudo isso.
TB: Muito obrigado pela sua colaboração, e deixo aqui um espaço para seus comentários finais.
DVK: "Eu que agradeço a oportunidade que você me deu, por ser uma baterista “desconhecido” no blues nacional. E pela oportunidade de valorizar esse instrumento, que fica lá atrás, escondido, mas que sem ele e ao baixo, defendido pelo Limão, a banda não existe (tenho que puxar sardinha pro nosso lado, correto?).
E é isso aí, muito blues para todos, uma grande abraço e espero ver todos vocês nos nossos shows em breve."
DVK, muito obrigado pela aula !!! Você realmente é um grande músico e uma pessoa fantástica. Paz e Blues
Obs: Carlos May, valeu pela ajuda nas perguntas.
2 comentários:
Realmente um grande batera em uma grand ebanda!
Já o conhecia dos vídeos do South Side Playboys e sua interação com os outros músicos é perfeita.
Ele pode se considerar um 'desconhecido'... mas por pouco tempo.
E além de tudo citou Fred Below, obrigatório entre os bateras e o meu preferido ao lado de Odie Payne.
gde abraço a todos!
Marcus Mikhail
www.bluesmasters.blogspot.com
Esse saca! Faz um som raro de se ouvir por aqui no Brasil... Valeu pela entrevista.
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