Fabio Pagotto foi um dos fundadores de uma das bandas mais fantásticas que já vi tocando, a Nitro Blues, que infelizmente não está mais na ativa. Agora ele faz parte da Garbage Truck e de vários outros projetos como músico contratado.
Seu som é forte, marcante e essencial para que o blues continue a crescer, agora chega de papo, vamos ao que o Pagotto nos escreveu.
TB: Quais as principais características que você busca em um contrabaixo, para que o seu som fique perfeito?
FP: “O braço tem que estar perfeito, afinando perfeitamente em toda a extensão, com trastes bons. Tem que ter bons captadores, que permitam obter o som cremoso e quente que o blues exige. As cordas prefiro 0.45 ou 0.50. Não me importo mais com marca ou modelo do instrumento. Tanto faz o que está escrito no hedstock. A verdadeira mágica está nos dedos.”
TB: Você é um dos poucos Baixistas que usa pedais de efeitos no som. Quais os efeitos que você usa?
FP: “Na verdade eu só uso pedal quando o trabalho exige. Como toco principalmente blues, é muito raro usar efeito. 95% do tempo os efeitos que eu uso são atacar as cordas mais próximo do braço, pra ficar mais gordo, ou mais próximo da ponte, pra ficar mais médio-agudo. Ou usar palheta, ou ainda mexer no botão de tonalidade. Eu montei uma pedaleira quando tinha uns trabalhos pop pra fazer, e acabava levando ela por aí mais de farra, e também porque ela tinha afinador e direct box. Nessa pedaleira pus um pedal Electro Harmonix BassBalls (envelope filter para funk), Boss Bass Synth, compressor Boss CS-2, delay (bem pouquinho) para dar uma ambiência, oitavador (para baixo), chorus, Lexotone (um fuzz handmade marca MG, muito bom, com oitavador para cima; literalmente as portas do inferno, dava um som ao estilo de Enthwistle), um modelador/DI Behringer e um Boss Bass Graphic Equalizer. Tudo isso num case Landscape com fonte estabilizada. Só que a mior parte do tempo usava só o Graphic Equalizer e o compressor CS-2. Gosto muito dos pedais da Boss.”
TB: Como venho pesquisando entre os músicos, gostaria da sua importante opinião a respeito do entrosamento entre o baixo e a bateria. O que um baterista deve ter para que a "Cozinha" fique perfeita?
FP: “O baterista é o melhor amigo do baixista, e vice-versa. Uma boa cozinha levanta a banda, deixa o vocalista e o guitarrista tranquilos para arregaçar. Como qualquer outro músico, o baterista tem que ter pegada, amor profundo pelo que faz e prazer em estar tocando com os amigos. O resto se arranja. Técnica é importante, óbvio. Mas no blues o feeling é ainda mais importante. É só pegar os discos dos velhos. Quase não tem virada, é reto, porém a pulsação é constante. É c omo sexo bem feito, tem um fluxo, um ritmo, a banda vai e volta, sobe e desce, vira e desvira. A cozinha tem que ser intuitiva. Pra adquirir isso só com alguns anos de palco e muitos anos de amor ao blues, respeito aos mais velhos e muita vontade de tocar.”
FP: “Muita coisa. Respeito é o principal. Nã há profissionalismo no meio musical brasileiro, em qualquer um, incluindo o jazz e o erudito. Tudo é muito amador, é freqüente coisas como cancelamentos em cima da hora, a falta de pagamento, calote, completo desrespeito ao músico, ausência de estrutura... Falta lugares com música ao vivo, temos uma mídia de bosta, que só divulga porcaria... Há espaço apenas para o ritmo estúpido da moda, seja axé, pagode, sertanejo, roquinho água-com-açúcar, funk carioca ou seja lá que merda for. Não tenho o menor preconceito com outros ritmos, já toquei pagode e sertanejo por motivos profissionais, minhas raízes são de música sertaneja (moda de viola com os primos tios mais velhos do interior). O que me deixa cabreiro é que a mídia porca e preguiçosa não dá espaço pra outras coisas. Interessa só que eles julgam que irá vender. A internet está mudando um pouco esse panorama, espero que mude mais.
Nos Estados Unidos e Europa o quadro é muito diferente. Nos EUA, por exemplo, conheço amigos músicos que foram criados por pai músico até a faculdade, trabalham com música e sustentam família, casa, carro, plano de saúde e tudo o mais pra manter um padrão de vida decente. E lá é assim: tem espaço pra caramba pra Britney Spears e Madonna, mas tem também pro Buddy Guy e B.B. King, bem como ritmos regionais e bandas iniciantes. Todos tem espaço na mídia e onde tocar. Há como sobreviver de música lá, sendo músico. Na Europa, se você tocar cover, riem da sua cara. Lá eles querem ver música original.
Aqui no Bananão (como o escritor Ivan Lessa chama nosso país), é foda viver como músico, Sei como é na pele, já vivi só de música. Viver só de música fora da mídia mainstream é pedir pra passar fome, literalmente. Se sujeitar a tocar a noite toda por 30 paus, indo a pé, sem nada no estômago, porque tá acabando a fralda do moleque. Mesmo dando aula e tocando de sol a sol não dá pra manter as contas em ordem, é uma correria absurda. Isso é, se você gosta de coisas luxuosas como comer, morar e vestir. E neguinho por aí ainda toca de graça, ou a troco de cerveja, porque tem outra profissão. Quem faz isso fode o músico profissional. Olha, uma coisa é tocar pra ganhar experiência, ou divulgação, ou qualquer coisa que seja. Mas tocar de graça não pode. Só se for uma jam session entre amigos, o que é diferente. Porque o dono do bar ou casa de show está lucrando em cima de você, se você toca de graça, e ainda tá tirando o alimento da boca do músico profissional.”
TB: Mestre, muito o brigado pela sua colaboração, gostaria de deixar um espaço para seus comentários finais.
Nos Estados Unidos e Europa o quadro é muito diferente. Nos EUA, por exemplo, conheço amigos músicos que foram criados por pai músico até a faculdade, trabalham com música e sustentam família, casa, carro, plano de saúde e tudo o mais pra manter um padrão de vida decente. E lá é assim: tem espaço pra caramba pra Britney Spears e Madonna, mas tem também pro Buddy Guy e B.B. King, bem como ritmos regionais e bandas iniciantes. Todos tem espaço na mídia e onde tocar. Há como sobreviver de música lá, sendo músico. Na Europa, se você tocar cover, riem da sua cara. Lá eles querem ver música original.
Aqui no Bananão (como o escritor Ivan Lessa chama nosso país), é foda viver como músico, Sei como é na pele, já vivi só de música. Viver só de música fora da mídia mainstream é pedir pra passar fome, literalmente. Se sujeitar a tocar a noite toda por 30 paus, indo a pé, sem nada no estômago, porque tá acabando a fralda do moleque. Mesmo dando aula e tocando de sol a sol não dá pra manter as contas em ordem, é uma correria absurda. Isso é, se você gosta de coisas luxuosas como comer, morar e vestir. E neguinho por aí ainda toca de graça, ou a troco de cerveja, porque tem outra profissão. Quem faz isso fode o músico profissional. Olha, uma coisa é tocar pra ganhar experiência, ou divulgação, ou qualquer coisa que seja. Mas tocar de graça não pode. Só se for uma jam session entre amigos, o que é diferente. Porque o dono do bar ou casa de show está lucrando em cima de você, se você toca de graça, e ainda tá tirando o alimento da boca do músico profissional.”
TB: Mestre, muito o brigado pela sua colaboração, gostaria de deixar um espaço para seus comentários finais.
FP: “Opa, tamos aí, Mr Earthquake. Sei lá, o lance é tocar sempre com muito, mas muito tesão. E se divertir. Se não for assim não vale a pena.”
Pagotão, valeu por mais essa ajuda. Paz e Blues !
Escute mais:
- Garbage Truck
3 comentários:
Um baixista sensacional! Um dos grooves mais seguros do blues, e com certeza, um dos caras mais amigos e de mais caráter do meio. Excelentes comentários!
Keep Grooving Pagotto!
O Pagotto é um cara daqueles que vale a pena conhecer, tanto quanto músico como pessoa, é um cara essencial, baixista da melhor qualidade com uma música sincera e amigo pra todas as horas. Parabéns Pagotto, continue mandando bala no som.
Pagotto é um grande mestre do Baixo.
Acrescimo de Dinâmica e Swing garantidos em qualquer banda.
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