segunda-feira, 16 de junho de 2008

Senhores das Teclas com Adriano Grineberg

Quem escuta este mestre tocando acha que está em algum bar de Chicago. Seu som é algo impossível de descrever, apenas quem já escutou ao vivo, sabe o que estou dizendo.

Adriano Grineberg é um dos melhores músicos do estilo no Brasil, e pode ser comparado facilmente a qualquer pianista Norte Americano, e apesar de tudo isso ele é uma das pessoas mais simples que já tive a oportunidade de conversar.

TB: Já escutei muitos tecladistas dizendo que transportar um Blues de um tom para outro não é tão simples como na guitarra. Existem essas dificuldades? Quais os motivos?

AG: "Existem sim tais dificuldades, tonalidades como Dó, Sol e Ré (reparem que estamos subindo pelo ciclo de quintas e conforme vai se seguindo por ele mais dificil se tornam as transposições) são as preferidas de muitos pianistas pelo fato de os "slides" utilizarem o mesmo dedo ex: de fá# para um sol, de mib para mi. De tal forma você escorrega o dedo de uma tecla preta parar uma tecla. Quando esse movimento é contrário, de uma tecla branca para uma tecla preta você precisa de utilizar 2 dedos para obter o mesmo efeito (ex: em Lá maior, da terça menor "Dó" para a terça maior "Dó#"). Na guitarra isso ocorre nas tonalidades onde se usam as cordas soltas como Mi e Lá que possuem diferentes articulações em relação às outras tonalidades. Já na gaita diatônica em um blues em tom maior é só trocar de instrumento."

TB: No seu projeto Adriano Grineberg Quartet, você toca com seu irmão que é o baterista. Como é tocar em família? Facilita sua vida ter um irmão baterista e muito competente?

AG: "O Sandrão é uma figura!!! Está na banda desde o início de sua formação assim como os demais integrantes, Rodrigo Jofré no baixo e o antológico Edu Gomes nas guitarra. Tocar com alguém tão próximo traz muitas vantagens no sentido de compreensão e na comunicação também, mas rola também o grande desafio de separar a relação familiar da profissional o que fazemos muito bem na minha forma de ver. Vocês sabem como é relação de irmão rsrsrsrsr. Já rolaram situações em dias de show onde tivemos uma discussão familiar na parte da manhã e na hora do show tudo estar no melhor clima possível rsrsrs. Fora isso o Sandro é na minha opnião o baterista que toca a maior variedade de estilos no blues com a mesma competência além de ser um cara fácil para se trabalhar."

TB: Fora a sua banda, quais são os seus projetos na música? Você pretende gravar seu trabalho? Você dá aulas?

AG: "Não dou aulas com reguaridade, prefiro transmitir minha vivência com a música através de oficinas e workshops á exemplo do que fiz em Curitiba no início do ano na (Oficina de Música de Curitiba). Isso de certa forma faz com que você passe a ter mais tempo para os projetos autorais e para atuar nos palcos. Apesar de amar o blues tenho hoje no meu projeto de Wolrd Music em parceria com o Edu Gomes, minha principal fonte de expressão na música. Já temos 7 cds gravados, apresentações e viagens para o exterior em países como a Índia, onde em 2004 fizemos show de lançamento de um cd de mantras hindus com texturas e rítmos brasileiros intiulado "Vera Mantra" que estará sendo relançado no Brasil até o final do ano. Além disso tenho acompanhado a cantora Ana Cañas em turne de lançamento do cd "Amor e Caos" (Sonyy-BMG) também nos principais veículos de mídia do país. Tenho planos de gravar o AG QUartet até o final desse ano, mas fazendo de forma menos formal e de acordo com a realidade que o blues nacional permite, hoje o mercado fonográfico do `gênero praticamente inexiste e os artistas acabam sendo pressionados a trabalharem num formato inviável e tendo na maior parte das vezes despesas ao invés de lucrar com seus trabalhos, ainda acredito que os shows e a própria internet são os veículos mais eficientes para um gênero pouco difundido no país."


TB: No Brasil não é muito fácil encontrar tecladistas competentes no Blues, o que você diria aos futuros tecladistas de Blues? O que devem fazer?

AG: "Eu diria que no Brasil a guitarra e a gaita são os instrumentos que ganharam mais força. Ainda não temos uma tradição na formação de grandes tecladistas no estilo pelo pouco interesse que o blues desperta nesses músicos. Isso de certa forma prejudica não só ao blues como também outros estilos como a música instrumental brasileira que eu respeito mas não consigo me emocionar ouvindo pela ausência da pegada "bluesy". Tem muito músico que sai do erudito direto para o jazz sem passar pelo blues o que traz um grande"buraco" na formação. Isso acaba se traduzindo não só na música como também nas atitudes das pessoas. Vale lembrar que o blues é o pai do rock e para se blues tem que ter atitude blues, sem cair na babaquice de ficar enchendo a cara o dia todo como alguns fazem rsrsrsrsrs. Acho que conviver com a linguagem do blues por grandes ou pequenos períodos na formação musical é indispensável para qualquer músico."

TB: Mestre, é uma honra indescritível ter você no Blog. Deixo aqui um espaço para seus comentários finais.

AG: "Agradeço demais pelo convite e aos leitores. Por se tratar de uma entrevista sobre o blues quero manifestar a minha vontade de ver as pessoas que o impulsionam a serem mais unidas e visarem menos os benefícios pessoais porque isso sem dúvidas fará do blues um gênero extinto no país em menos de 10 anos tendo em vista o terreno que ele perdeu da década passada para a atual, fato que a nova geração não se dá conta, isso se dá pela a atitude não só dos músicos mas também de produtores, pseudo produtores, vendedores de cd, palestrantes, empresários ,donos de bar e instituições em quase sua totalidade. Seria muito legal um dia ver as camadas mais pobres da sociedade entrarem em contato com o blues, pois é lá que vive o verdadeiro "felling" do brasileiro que tem tudo a ver com o blues, mas ainda não foi descoberto por tais pessoas. Triste ter como única alternativa de ver um show blues levar a sua garota num bar, pagar 100 reais de conta para ouvir músicos se degladiarem num palco rsss. De qualquer forma trata-se do estilo que revolucionou e redefiniu os rumos da linguagem da música no último século e para sempre será. Long Live Bluessssss!!!"






Vasco faé e Adriano Grineberg no Photozofia

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a entrevista

ABS
Rod Burin

Anônimo disse...

ESSE É O CARA!